Heli-boarding em Valle Nevado Texto: Federico "Fred" Biagioli Fotos: Guilherme Mallmann
Decidimos abrir a temporada de vale nevado na esperança de sermos os primeiros a fazer alguns trechos virgens de neve funda. Saímos do Rio, eu, Hugo, Lobo Maullman e Dany, com o objetivo de formar nosso grupo multiregional em Santiago com os reforços do paulista Moruzzi e do pernambucano Rodrigo. Com mais alguns acréscimos, o grupo estava formado.
Nos primeiros dois ou três dias, dedicamo-nos a fazer os trechos de powder da própria estação, a grande maioria deles sendo conhecidos out of bounds da rapaziada. A estratégia de abrir a temporada revelou-se acertada, já que fomos os primeiros a passar após a nevada de 60 centímetros da semana anterior.
Eu gostei particularmente do “Waimea”, que não conhecia, um drop que pressupõe um hike de uns dez minutos a partir do lift com cadeira rápida. Prende-se o binding em uma faixa de neve estreita, mas bastante cumprida, que convida a um jump sem-grandes-dificuldades-mas com-grande-prazer na parede que compõe o corpo da montanha apelidada de Waimea.
O problema é que, como sói acontecer, variadas pessoas passaram a se divertir no mesmo lugar, detonando por completo a neve intocada do lugar. O grupo resolveu dar alguma atenção às pistas, nas quais já estava Hugo, fascinado por descobrir os prazeres do carving perfeito.
Fiquei impressionado com o nível da galera; se fora da pista, são snowboarders regulares, dentro delas, o domínio é total. Dany deita nos carvings LIKE THERE'S NO TOMORROW, ou seja, como se não existisse amanhã. Mallman desce numa velocidade que me deixa com frio na espinha. Moruzzi, por sua vez, simplesmente desce reto a pista mais comprida e vertical de toda a estação.
Aproveito, como snowboarder de freeride e freestyle, pra reclamar que o snowpark ainda não estava funcionando.
De qualquer maneira, valeu a pena ter passado algum tempo nas pistas com essa galera que as domina. Como até para eles andar na pista satura, a onda foi partir pro helisky, cuja organização esteve a cargo do Rodrigo, a quem devemos também a gentileza pelo filme. Não conhecia o Rodrigo, mas é um camarada sangue bom pra caramba, com quem viajaria de novo de olhos fechados.
O primeiro dia de heli-ski começou logo com um drop de qualidade: neve bem funda com boa inclinação. A maioria preferiu descer na "manha", eis que enferrujados por falta de prática. Eu tinha uma preocupação extra: acostumar-me com a Palmer 164 top de linha que o Dany teve a gentileza de emprestar.
A segunda parte do primeiro dia foi bem tranqüila: um trecho com neve funda e mediana pra leve inclinação. Deu pra descer na maior tranqüilidade, curtindo aquele momento mágico de neve funda intocada em um dia de sol, com os amigos descendo lado a lado pela montanha, distante de tudo e de todos.
Quando chegamos ao helicóptero (eu ainda tive que andar uns 30 metros na neve funda, pois tinha feito uma trilha mais por baixo), estresse total: o motor não ligava. Começaram as paranóias de praxe em ocasiões do gênero, mas conseguimos retornar para o hotel. Decidiu-se que era melhor não arriscar mais com aquele aparelho.
No dia seguinte, já com outro piloto, outro aparelho e outro cinegrafista (para tristeza da galera, pois trocou-se uma gatinha por um coroa), partimos para um dos mais conhecidos drops de heli da região: Parraguire. É uma descida muito longa, com boa inclinação e alguns jumps para os mais atirados.
Se no primeiro dia havia ficado um gostinho de quero mais, o segundo fez a cabeça da galera. Desnecessário dizer que a nossa era a primeira incursão de heli-ski da temporada, e que fizemos a melhor descida da região em neves absolutamente virgens. Foram duas descidas, com o aproveitamento de faces diferentes, mas próximas. Isso foi bom para planejar melhor a segunda descida, já conscientes da inclinação das paredes e da condição da neve.
A respeito disso, não poderia reclamar. Os guias nos levaram nos lugares em que havia melhor condição de neve; no entanto, em relação às paredes e obstáculos, eu teria preferido um trecho mais adrenante, até para a memória póstuma registrada em filme.
O relacionamento com os guias é tranqüilo, mas é bom ficar ligado em algumas coisas quando for contratar o serviço. É melhor que você converse bem com os guias, pois ele só te levaram para os melhores drops se souberem que você tem a habilidade necessária. No nosso caso o primeiro dia serviu de teste para eles saberem onde nos levariam no segundo dia. Se eles não sentirem firmeza em vocês, vão levar pra algum lugar arroz-com-feijão, o que pode desagradar aos que esperam um algo mais de um drop de heli-ski.
Outra coisa é que o drop não é barato, vale a pena negociar. É bom também combinar onde eles vão te lavar. Parraguire é boa pedida. É uma descida bem longa e tem boa inclinação. Consegui dar quatro jumps, um deles por sobre uma pedra que funcionou como um minúsculo cliff de meio metro (a emoção é que importa). Acertei dois deles e a sensação foi indescritível, seja a dos que acertei, seja a dos que errei; sim, pois cair em velocidade em uma neve virgem com aquela profundidade está muito longe de configurar desconforto ou dor. É como se jogar no colchão mais perfeito, que alivia por completo qualquer possibilidade de impacto. Moral da história: esse dia foi tão perfeito que até a sensação das quedas foi boa.
Conclusão: a idéia de abrir a temporada foi acertada: fomos os primeiros a pegar a nevada da semana anterior tanto na pista como fora dela, o que foi motivo de inveja para os que chegaram depois, pois nevou pouco a partir de então. O grupo que se formou é pequeno, mas valorosos são seus integrantes, de cujas aventuras surgirão novos relatos nesse site.
Outros comentários:
"A montanha chamada Parraguirre ... foi meu melhor heliboarding. A area esquiavel estava em perfeitas condições e o sol brilhava sem vento nenhum e a galera toda conhecida de decadas, ou seja, só brothers in arms!!!!!! Incluindo Miguel nosso guia e Gaston na retaguarda. Dividiamos as etapas das descidas, assim cada um pode desfrutar sendo o primeiro na virgindade da neve ate a proxima parada de descanso. Com certeza demorava mais de uma hora para completar a descida, tamanha era a distância a ser percorrida. Sempre com inclinação variável, ou seja, bem ingreme no drop inicial até grandes open bowls durante este parque de diversões. Conseguiamos ver quilometros adiante sem nenhum obstáculo a frente, podendo assim planejar nossas linhas sem nenhum stress ou preocupação. Quedas foram pouqissimas, todos nós ja temos uma certa experiência , como também sempre temos a certeza da confiança q todos depositam um ao outro." Guilherme Mallmann
"Éramos 8 pessoas ... Foram 2 dias Heli . No primeiro dia o Helicóptero quebrou e ficamos cerca de 2 hrs esperando os reparos a mais ou menos 3 mil metros de altura .... Tivemos que voltar para o Resort por motivo de segurança .... no segunda dia fomos há um outro pico com um novo helicóptero .... mais ou menos 30 min de vôo do resort ... nosso heli foi o primeiro da temporada ... por isso fomos com dois guias e os cuidados eram redobrados .... a consistência da neve só foi vista no momento antes da descida .... e o perigo de avalanche calculado na hora pelo nosso guia Miguel .... Experiencia maravilhosa .... dia espetacular ... neve excelente e companhia de amigos. Ffoi uma pequena previa da nossa trip pro Alaska em 2011 !!!" Dany Haiat