Dany Haiat, Leo Oliveira, Bruno Granatowicz, Guilherme Mallmann e Rodrigo Santos.
Linhas e linhas de puro powder!
05/11/2011
Snowboarding dos Sonhos no Alaska Colaboração: Guilherme Mallmann
Fotos: Guilherme Mallmann, Bruno Granatowicz, Rodrigo Santos, Dany Haiat, Leo Oliveira e Aaron Karitis
No final da última temporada no hemisfério norte, um grupo de amigos do Rio se juntou para realizar a sonhada trip de Heli Boarding no Alaska. Guilherme Mallmann conta um pouco sobre a aventura abaixo, e os vídeos e fotos falam por si próprios.
'Enfim, depois de cerca de 14 anos de um sonho encubado, um time brasileiro de snowboarders viu realizadas suas mais altas ambições e expectativas. Simplesmente surfar as montanhas mais almejadas e ao mesmo tempo mais inacessiveis. Valdez-Alaska.
Pensavamos que seria a grande e intensa aventura de nossas vidas e realmente foi, porém a realidade foi muito além de nossos pensamentos e imaginações. Situações inesperadas, visual infinito, montanhas intimidantes, clima inconstante e a grandiosidade de um lugar praticamente cru nos fizeram concluir que este era um lugar onde se separam os homens dos meninos.
Desde nosso primeiro dia, surpresas de todos os tipos foram acontecendo e nem haveria descidas ainda. Durante o briefing, que na verdade foi uma conferência a respeito de segurança geral, ficamos sabendo do equipamento que cada um de nos deveria levar. "Beep" localizador ja era nosso conhecido de outras empreitadas Andinas mas desta vez também levariamos um "Probe" ou seja, uma vareta de 3 metros dobravel em 0.5m usada para fincar a fundo a neve a procura de um sobrevivente soterrado e uma "Pá" desmontável, para cavar e tirar a neve. Logicamente o uso técnico de cada um destes componentes nos foi cautelosamente explicado, ensinado e simulado em diferentes condições de situações. Afinal a vida de cada um dependeria de nossas habilidades em todos esses manuseios, até a vida de nosso guia também dependeria de nossas atuações em salvamento. Todos nós também deveriamos usar um "Trapézio" de alpinista amarrado na cintura em caso de alguem cair acidentalmente numa "Crevasse" (aqueles buracos profundos camuflados pela neve) para assim ser içado. Helicoptero? Ficamos sabendo que é uma maquina um tanto perigosa, portanto o embarque e desembarque teria de ser rápido e eficiente, para isso também havia regras de segurança, como por exemplo, antes de entrar e depois de sair, sempre teriamos de ficar no campo de visao do piloto ou seja, nunca atras por razões óbvias. Os ventos também são inconstantes, o piloto esta sempre compensando durante embarques. E mais critico ainda, o momento de desembarque uma vez que o helicoptero vai se tornando mais leve, numa maior altitude e num terreno mais acidentado (nos picos).
Depois de tantas teorias de segurança, já era tempo do "surf" dar o ar de sua graça. O visual do Helicoptero pilotado pelo Vince (tremendo camarada) indo embora com aquele barulho ensurdecedor e o silêncio e a paisagem deslumbrante tomando conta de nossos sentidos gerava uma ansiedade em potencial. Após os últimos conselhos do Aaron (nosso guia) por onde deveriamos descer e ir seguindo adiante ficamos abismados com o caminho a seguir. Fizemos muitas descidas nestes 4 dias de extase, uma média de 8 por dia, desde descidas com grande ângulo de inclinação entre 50-55 graus em gargantas estreitas porém mais curtas, como também grandes, longos e espaçosos "open bowls" que duravam entre 20 e 30 minutos (haja perna).
Como se pode concluir, muitas surpresas aconteceram, cada descida nos surpreendia com suas belezas e perigos. Até o visual era surpreendente, nas descidas do meio-dia a neve (Puro Champagne Powder) cintilava como inúmeros cristais de diamante e nas descidas de final de tarde nossas sombras se extendiam por dezenas de metros. Até o splash do powder que se soltava curva após curva se alongavam nas proprias sombras.
Também vale afirmar que vimos um total de 4 avalanches nestes 4 dias, um por dia?? Nao, vimos 3 em um só dia. Imaginamos que estávamos numa loteria!!!!! Tive em particular uma incrível surpresa: No inicio de uma certa descida, acabei ficando por ultimo do grupo, na minha segunda curva um bloco se desprendeu por debaixo da minha prancha me dando uma rasteira e acabei sentado como passageiro de rafting no que parecia ser o inicio de uma puta avalanche. Deslizei uns 20-25 metros e para minha felicidade cerca de 10 segundos depois ela parou. Minha camera GoPro estava ligada e consegui documentar ate meu grito de Poooorrrraaaa!!!!! Nesses segundos de pura adrenalina e medo, todos os briefings de segurança me passaram pela cabeça, mas acabou tudo maravilha!!!!!! Já perdi a conta de quantas vezes passei o filme na tela. Agora mais do que nunca entendo a preocupação de nossos anfitriões em realizar os briefings de segurança e ensinamentos em como se comportar diante do inesperado. A imensidÃo destas montanhas intimidam atÉ os mais valentes. Para se ter uma idéia, existem catalogadas so nesta área de Valdez cerca de 3.000 lugares de pouso do Helicoptero ( Landing Zones) e em cada uma delas uma média de 3 descidas terminam ali, logo, estamos falando de cerca de 9.000 descidas catalogadas e ainda com grande terreno por explorar.
Depois de nossos sonhos terem se realizado, afirmo com toda a certeza que este nosso grupo que já era unido se tornou mais forte ainda, um grupo em que todos depositam grande confiança um no outro como também deixamos uma otima impressão para nossos anfitriões, afinal ficamos conhecidos como Team Brazil".